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RJ: Projeto Adote Um Aluno 2019 ampliado

Em continuidade a um belo projeto existente no Rio (vide post aqui no SBN em 08.10.2019), o jornal O Globo publicou matéria (de Carolina Calegari e Mauricio Peixoto) em 25.10.2019 sobre os voluntários que oferecem aulas gratuitas em praças públicas:

“Os comprometidos com a tarefa da invenção do país nas encruzilhadas da educação não poderão se esconder mais em seus aparatos teóricos, leituras clássicas e ideologias redentoras. A educação está também fora dos muros escolares. Se a escola não reconhecer isso, pior para ela e para quem ela educa”. Neste trecho de seu recém-lançado livro “O corpo encantado das ruas”, o escritor e professor de história Luiz Antonio Simas fala sobre a riqueza dos saberes que extrapola os muros e a importância da rua, pois “educação, afinal, é o fazer constante e cotidiano de experimentar o mundo em qualquer canto”. Coube a Simas a inauguração da série de aulas particulares gratuitas em praças do projeto “Adote um aluno” , idealizado pelo engenheiro Silvério Moron no ano passado [2018], na Praça Compositor Mauro Duarte, em Botafogo , e que acaba de chegar a Vila Isabel. Na ocasião, Simas falou sobre as revoltas da Chibata e da Vacina.

— Foi uma honra o convite para a inauguração. Já me dispus a estar presente em outras oportunidades. É um projeto muito bacana, que transforma a praça em algo vivo, ativo, dando oportunidade a quem mais precisa — elogia Simas.

Professores e estudantes no projeto Adote um Aluno na Praça Tobias Barreto, em Vila Isabel (foto: Brenno Carvalho)

Para participar do projeto, que tem foco em alunos da rede pública de ensino , é preciso comparecer nas praças incluídas no cronograma. A grade de programação está disponível na página do “Adote um aluno” no Facebook. Moron, que começou a lecionar física e matemática em 2003 e se apaixonou pelo ofício, diz que a falta de conhecimento é a raiz de todos os problemas da cidade.

— Sou carioca e quero contribuir para a melhoria deste Rio que eu amo — confessa o professor.

O “Adote um aluno” começou em março de 2018. Em setembro, Dona Nilda, uma babá aposentada de 93 anos, decidiu voltar a estudar e se alfabetizar .

— O nível de escolaridade vem piorando, devido ao sucateamento e abandono do ensino público. Sou de uma época em que a escola pública era de excelência. Então decidi ir à rua para tentar modificar esse cenário. Comecei com uma placa que dizia “Tiro dúvidas de matemática e física”. Somente três dias depois apareceu o primeiro aluno. Ele postou no Facebook e viralizou, com quase 50 mil compartilhamentos — conta Moron.

Desde então, o projeto cresceu, ganhou alunos, voluntários e braços pela cidade. Além de Botafogo, o “Adote um aluno” está presente no Flamengo , em Copacabana, na Barra da Tijuca e em Itaipuaçu. Na região, haverá professores nas praças Edmundo Rego, no Grajaú (a partir de novembro), e Tobias Barreto, em Vila Isabel, onde já são realizadas as aulas. Até o final do ano, o projeto deve chegar a Quintino e ao Recreio dos Bandeirantes. Ao todo, são 400 alunos cadastrados e 60 professores voluntários.

Professor de matemática e especialista em tecnologia da informação, Marcus Vinícius Caldeira é o responsável pelo braço do projeto no bairro. Ele tira dúvidas de matemática e física.

— Eu me encantei pelo projeto. Temos aulas todos os dias. A educação pública brasileira está complicada, sucateada. O pessoal de baixa renda não tem condição de pagar um reforço escolar para competir de igual para igual com alunos de rede particular — conta ele.

As aulas do último dia 23.10.2019 em Vila Isabel

Maria Zenaide, que está fazendo vestibular para Psicologia, é uma das alunas:

— Tenho muita dificuldade em matemática. Pesquisei professores particulares e era inviável pagar.

Além das disciplinas curriculares, o “Adote um aluno” abre espaço para outros saberes, como a aula de educação financeira, dada pelo economista Frederico Cunha em Vila Isabel.

— O projeto é, acima de tudo, para compartilhar conhecimento. Se um desenhista ou um cabeleireiro quiser ensinar suas habilidades, também será bem-vindo — diz Moron.

Uma folha de papel colada a uma das mesas da Praça Soldado Geraldo da Cruz, na Barra, informa que disciplina o transeunte pode aprender. O projeto Adote um Aluno chegou ao bairro em agosto e em breve deve se estender ao Recreio .

O atendimento quase sempre é individual. Os alunos podem pedir explicações sobre um tópico específico ou ajuda para resolver um exercício. Na Barra, as aulas são oferecidas nas segundas-feiras à tarde e de terça a quinta pela manhã. Em dias de chuva, são canceladas. O cronograma pode ser consultado na página do projeto no Facebook.

A professora de português aposentada Ilma Lopes foi uma das três responsáveis por levar o projeto para a Barra. Todas moram no bairro. Ela se interessou pelo Adote um Aluno assim que leu uma notícia sobre a iniciativa e decidiu participar.

— Fomos à Zona Sul alguns dias, para entender o funcionamento do projeto, e depois começamos aqui. Colocamos a plaquinha das aulas gratuitas e estamos ali para ajudar. É simples e eficaz. É algo que se pode fazer sozinho — conta Ilma.

A participação no novo ponto tem crescido: atualmente 13 voluntários dão aula no local, atraindo cada vez mais alunos.

— Escolhemos esta praça porque ela tem as mesinhas e fica próxima à Escola Municipal Dom Pedro I. Os horários foram pensados de forma a pegar a saída e a entrada dos turnos. Hoje já temos alunos de escolas mais distantes também — diz Ilma. — Outro objetivo é atender adultos, com alfabetização inclusive, por isso estamos num lugar aberto.

Na Barra, no momento, são oferecidas aulas de matemática, física e inglês às segundas, das 17h às 18h30m; de português, inglês, espanhol, história, geografia, matemática e reforço escolar às terças e quintas, das 11h30m às 13h30m ; de alfabetização de adultos e às quartas, das 9h às 11h; e de matemática, português, inglês e história no mesmo dia, das 11h30m às 13h30m.

Os voluntários, como nos outros pontos, têm formações distintas: há economistas, engenheiros e advogados. Ilma, além de professora, é graduada em Administração de Empresas:

— Os alunos chegam querendo melhorar, senão, nem se sentam ali. E nós queremos ensinar. Eles são muito interessados, inteligentes e têm sonhos: querem ser enfermeiros, cientistas. Só temos que mostrar que isso possível — diz.

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